O que significa ter saúde? Uma pergunta que inicialmente parece ser muito simples de se responder, mas que pode nos revelar muitas informações. Para o Sérgio Arouca, médico e sanitarista que lutou ativamente pela existência do nosso SUS, a saúde “também pode significar que as pessoas tenham direito a casa, trabalho, salário digno, água, vestimenta. Que tenham direito à educação. A ter informações sobre como se pode dominar esse mundo e transformá-lo”.
A Saúde é uma condição coletiva e social, que envolve a concretização da cidadania, e não apenas a ausência de doenças. A nossa vida é influenciada por diferentes contextos: sociais, políticos, econômicos, culturais e ambientais, que em conjunto atuam na determinação da saúde. A construção de redes sociais e comunitárias, a idade, o sexo, os fatores hereditários, o acesso à habitação, saneamento, educação, segurança, trabalho, transporte e mobilidade, entre outras questões também determinam a qualidade da saúde. Ter saúde é ter a garantia do acesso igualitário a diferentes direitos.
Jurema Werneck médica, pesquisadora destaca que o acesso à saúde no Brasil envolve em diferentes escalas a estruturação do racismo em nossa sociedade. Dados da Pesquisa Nacional de Saúde (IBGE, 2019) mostram que: as taxas de mortalidade materna (53%) e de violência obstétrica (65,9%) são maiores entre as mulheres negras; as populações negras e indígenas possuem menos acesso aos serviços públicos de saúde em comparação a população branca; negros e negras são os mais afetados por doenças mentais e físicas. De acordo com a Atlas da Violência (IPEA, 2019), jovens e homens negros representam 75% das vitimas de homicídio.